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Revista da Cultura * Seção: Miniping. Páginas 44 a 46.
Data da publicação: Março de 2013 * Edição n° 68


cantoras e compositoras

MOMENTOS INCRÍVEIS


Com vídeos produzidos em esquema caseiro, a cantora, atriz e roteirista Clarice Falcão virou fenômeno de visualização no YouTube e agora se prepara para lançar seu primeiro álbum

* Entrevista e texto por Adriana Paiva - Fotos: Luciana Whitaker



Contabilizando incursões diversas por áreas como cinema, teatro e TV, aos 23 anos, Clarice Falcão já se vê às voltas com a necessidade de priorizar. O que pode significar deixar um pouco de lado atividades que lhe dão grande prazer, como escrever para televisão, a fim de se dedicar a outra não menos empolgante, a música. É possível que ela mude de interesses logo ali. Mas agora a moça tem exata noção do rumo que imprime à sua carreira. Foi assim, com foco apurado, que a filha do diretor João Falcão com a escritora e roteirista Adriana Falcão entrou em estúdio para gravar seu primeiro CD. Com 14 músicas – entre as quais cinco inéditas –, o álbum conta com colaborações luxuosas como a do violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum, uma experiência que, assim como outras, ela nos conta nesta entrevista.

Além de diretor (de teatro e TV) e roteirista, seu pai também compõe. Veio dele a inspiração para fazer música?

Um pouco. Mas tanto eu como meu pai, a gente não compõe com cabeça de músico. Para mim, a composição vem muito mais do que gosto de ouvir, do que penso. O principal é que nunca deixo uma música passar se acho que ela está sem ideia. Quando acho que está sem ideia, jogo tudo fora. Se a melodia ainda está esquisita, tento melhorar. Mas, em geral, dou mais valor à ideia.

Nos vídeos que estão no seu canal, no YouTube, você aparece tocando violão e ukulele. Teve aprendizado formal desses ou de outros instrumentos?

Toco para me acompanhar. Não sou uma boa instrumentista, nem nunca me chamaria para tocar violão numa banda (risos). Sei pouco de teoria musical, estudei um pouquinho de piano. Depois que comecei a me interessar de verdade por fazer música, passei a estudar, entrei numa aula de piano. Não para tocar piano perfeitamente, mas para entender um pouco de tudo.

Você namora o ator Gregório Duvivier, que é filho da cantora Olívia Byington com o músico Edgar Duvivier. Essa proximidade com gente do meio musical influiu de que maneira na sua decisão por um trabalho mais elaborado?

A Olívia é minha produtora. O fato de ela estar por perto nesse processo tem sido supervalioso para mim. Ela gravou vários discos, tem muita experiência e um ouvido muito especial. Mas eu sempre soube o que queria. Tinha um pouco de medo pelo fato de que as pessoas, em geral, acham minhas músicas engraçadas. E não queria que elas fossem vistas apenas pelo seu lado de humor, sabe?

Daí você ter se cercado de músicos experientes.

É. Queria trabalhar mais a música das canções. Mas é um equilíbrio complicado. Porque eu também não queria perder o humor, não queria que a letra sumisse. Acho que a letra é o que tenho de melhor para oferecer. Então, não quis afogar isso num mar de instrumentos. Nunca foi minha intenção. Mas acho que o que a gente fez melhorou a letra.

O Jaques Morelenbaum já tinha feito o arranjo de violoncelos para a versão da música Macaé, que também está no EP, lançado em dezembro. Como foi a experiência de gravar com ele?

Esse foi um dos momentos mais incríveis da minha vida. A gente convidou o Jaques e, quando ouviu Macaé, ele falou: “Acho que essa aí deveria ter um arranjo, eu deveria sentar e escrever”. Então a gente disse: “Claro! Leve para casa”. Ele levou e escreveu. O Jaques também é muito bom improvisando, o que ele faz na Qualquer negócio e numa música nova, em que o improviso no cello ficou lindo.

Falando em parcerias, parece ter sido bastante positivo o retorno dos seus fãs ao dueto que você fez com o músico brasiliense Tiago Iorc, interpretando Na rua, na chuva, na fazenda, do Hyldon.

Isso foi muito legal. Na verdade, foi uma coisa para o Tiago, que eu conhecia de nome e adorava. O empresário dele mandou uma mensagem dizendo que o Tiago tinha visto meu trabalho e gostado e que, como ele estava entre um álbum e outro, queria lançar algumas coisas. Então, ele resolveu fazer umas parcerias com algumas cantoras, interpretando versões. Ai eu falei: “Ótimo, vamos lá fazer”. Fizemos super-rápido e foi muito legal.

No álbum, aliás, você acabou não colocando nenhum dos covers que estão no YouTube. Por que incluir apenas músicas de sua autoria?

Amei fazer a versão com o Tiago. Mas não acho que eu seja uma intérprete tão boa a ponto de uma música merecer minha versão. Tenho um pouco de agonia com isso. Quando fiz as versões que estão na Internet, meu pensamento era: vou mudar essa música totalmente e fazer dela outra coisa, algo que nunca tenha sido feito. Até cogitei colocar Coração radiante, por exemplo, a versão que fiz do pagode [do Grupo Revelação]. Ou a que fiz para YMCA [do Village People]. Mas pensei melhor. Como passei muito tempo compondo e sem coragem de mostrar pra ninguém, tinha muita música.

Muito mais do que as 14 que entraram no CD?

Tenho 20 e poucas músicas prontas. E pensei: “Se eu encher (o CD) de músicas de outras pessoas, vou perder todas essas que sei que não vou colocar depois, porque vou ter crescido”. Aí, resolvi aproveitar as que tenho agora. A gente cresce muito fazendo música, né? Volta e meia, olho uma composição mais antiga e percebo que não me identifico mais com ela.

E shows, você já pensa a respeito?

Nossa! Penso muito em show, penso o tempo inteiro, deveria pensar menos (risos). Fico fantasiando...

E como você pensa em montar a banda que a acompanhará nessas apresentações?

O que gostaria de fazer é um meio-termo entre o que faço nos vídeos e o que fiz no CD. Não planejo chamar um Jaques Morelenbaum (risos). Também não queria fazer com 20 mil músicos, sabe? Até porque para viajar é mais fácil. O que imagino é fazer versões menores das músicas do CD e até pegar uma ou outra que seja mais difícil e dar uma viajada mesmo, repensar. Penso em ter três músicos, quatro no máximo.

Quem são os cantores e as bandas que têm frequentado seu iPod? E os compositores que a inspiram?

Cara, estou nesse mercado agora, no mercado da música, mas ouvia muita coisa antiga. Quer dizer, músicas que meus pais cantavam para eu dormir, gostavam muito e ficavam botando para tocar pela casa. Ou seja, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil... Minha mãe sempre me ninou com Chico. Então, sempre amei Chico, Caetano, enfim, essa galera que minha mãe ama.

E quem dessa nova geração de músicos brasileiros você tem ouvido?

Tem algumas pessoas na música, atualmente, que gosto muito. Tem um menino, o Tibério Azul...

Ele é do Recife, seu conterrâneo.

É verdade. E tem também uma banda de São Paulo, o Terno, fiquei apaixonada pelo trabalho deles. Tem o Silva, do Espírito Santo, ele fez uma participação no meu CD, tocou violino e fez um dueto comigo – arrasou tocando violino! E tem muito mais galera aí. Todos esses paulistas são muito legais: a Tulipa, a Tiê, o Marcelo Jeneci. Claro que já tinha ouvido falar de muitos deles. Mas, quando comecei a fuxicar, ver o que estava acontecendo, fiquei muito surpresa... Como a música brasileira está numa fase boa, como tem gente fazendo coisa legal.


FIM